Entrevista no blog “Novas Voltas em Torno do Umbigo” – 17/09/2020

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Entrevista com Giancarlo Carvalho sobre seu livro As Mitologias Roubadas – Os 12 Trabalhos (2007)

1. Eu li o livro em 2020, mas ele foi lançado em 2007? Como foi o lançamento na época?

O lançamento foi organizado pela Editora Literalis, na Livraria Cultura. Autor desconhecido, recém chegado no RS, mas teve um comparecimento positivo e boa divulgação e venda na livraria, por um bom tempo. Foi no lançamento que conheci o Rubem Penz, inclusive.

2. O livro me pareceu direcionado ao público infanto-juvenil, apesar de conter cenas de violência. Era esse mesmo o propósito?

Sim, o livro é uma aventura infanto-juvenil. Começou diferente disso, com um tom mais soturno e sério, voltado ao público adulto, par ao qual eu queria apresentar e atiçar a discussão sobre o respeito ao patrimônio histórico. Tentei emular os 12 trabalhos sem usar da ficção, mas percebi que não conseguiria aprofundar muito a lenda mitológica. E, inspirado no sucesso do Harry Potter e O Código Da Vinci, à época, decidi frear o “pé-no-chão”, e soltei a imaginação.

3. Pelo início do livro, e pelo formato do título e pela apresentação da capa, eu diria que você pretendia escrever uma série de livros. Logo no início do livro, o protagonista Felippe descobre que cinco livros haviam sido roubados. É fato? Você desistiu ou está escrevendo? 

Sim, a intenção era dar sequência, apresentando uma mitologia a cada livro. A segunda seria a mitologia nórdica, depois a egípcia, a propósito. Cheguei a iniciar, mas interrompi. Os motivos, confesso, não são louváveis:  faltou  um pouco de ânimo, apesar do livro ter sido bem recebido, faltou disciplina, faltou tempo para pesquisa, sobrou trabalho (no primeiro ano estava sem trabalhar, tive mais tempo disponível para pesquisas quase diárias, principalmente na Biblioteca Pública) e rotina. A ideia permanece na cabeça. Talvez um dia saia, ao menos mais um.

4. Uma enchente em Porto Alegre, em 2037, que cobrisse a Biblioteca Pública, não seria bem uma enchente, seria uma espécie de catástrofe, pois a cheia teria que subir vários metros em relação à área mais baixa da cidade, lembrando que o avanço máximo das águas em 1941 foi a Esquina Democrática. De onde surgiu essa ideia? 

Em 1941, ano da maior enchente da história da cidade, ninguém poderia imaginar que o centro da cidade fosse atingido como foi. Mercado Público, a Prefeitura, Rua da Praia ficaram debaixo d’água, praticamente. Foi uma catástrofe. A minha ideia, saída da imaginação sem se preocupar com qualquer dado científico, só foi pior. Num enredo que tem laminas que cortam o tempo-espaço, material que não existe, skate voador e personagens mitológicas, a enchente foi a menor das liberdades criativas, eu diria.

5. Qual a inspiração do “vitrato”?  

Eu queria apresentar um elemento que fosse visualmente impactante, com o qual eu pudesse “restaurar” prédios e monumentos históricos deixando-os com um visual misto de antigo e moderno. O nome era pra ser vidraço, pela resistência que o enredo exigia, mas já existe o termo, e o material (vidraço é um pedra, branca, resistente, parecida com vidro e muita usada em calçamentos).

6. O livro é muito visual. Poderia tranquilamente ser adaptado para um filme ou uma série. Chegaste a conversar com alguém sobre isso? Em Porto Alegre temos inclusive uma Casa de Cinema. 

Sim, utilizo muito da linguagem cinematográfica no livro. Sou um cinéfilo escritor. Já escrevi roteiros e tentei concursos, há tempos. Na época do livro, enviei projetos para vários estúdios de cinema, com proposta de roteirização. Enviei material impresso e online, em inglês, para produtores. Recebi respostas informando que estariam estudando, e recebi alguns envelopes de volta, sem abrir. Por aqui mandei para uns locais também, tentei com o Zaffari um projeto de distribuição, e com outras empresas. A editora tentou contato na Casa de Cinema. Não rolou. Tempos depois pensamos em relançar o livro em quadrinhos. O custo era inviável.

7. Gostaria de dizer mais alguma coisa, além dessas perguntas?

O livro, meu primeiro e único romance (agora, com texto mais lapidado e maduro, escrevo crônicas), tem nas entrelinhas, mensagens sobre a importância da conservação do nosso patrimônio histórico e cultural e a importância da leitura. Na época, eu estava envolvido com um grupo que tinha bom conhecimento sobre o tema, além do meu sócio, Felippe, técnico em restauração, que me auxiliou muito na construção da história. Por isso, batizou o protagonista. Juntou meu conhecimento e gosto pela mitologia greco-romana, tempo disponível e um pouco de criatividade. A primeira versão tinha mais conteúdo sobre patrimônio, inclusive, e tinha 200 páginas a mais. E, tempos depois de lançado, refiz uma revisão completa do mesmo, gramaticalmente e estruturalmente falando. Espero, um dia, poder relançar, e dar continuidade à história.

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